Telemedicina: O novo normal

A tecnologia se consolida como aliada no combate à pandemia do novo coronavírus.

Não é de hoje que os seres humanos atualizam suas formas de cuidar da saúde. As ferramentas disponíveis, os tratamentos, remédios e diversos modos de fazer medicina se atualizam com o tempo e variam de acordo com a cultura. Na antiguidade, os curandeiros foram os guardiões dos saberes quando o assunto era cuidar da saúde de reis e rainhas. Suas armas contra as mais diversas pandemias e pestes eram uma mistura de misticismo com saberes das propriedades das ervas medicinais, acumulados ao longo de séculos e repassados de geração em geração.

Com o avanço da ciência moderna e dos recursos tecnológicos, a missão de cuidar das pessoas se tornou um ofício. Mas a medicina tradicional como a conhecemos hoje teve sua origem na Grécia, cerca de 400 a.C. (antes de Cristo). Foi nesse período que o “pai da Medicina”, Hipócrates, deu início ao método da observação e de entendimento das doenças. Ele exerceu a medicina no templo do deus Asclépio. Mesmo com o misticismo da época, ele percebeu que observar o comportamento da doença é fundamental para combatê-la. 

Será que você consegue imaginar quais recursos Hipócrates tinha à disposição para iniciar algum tratamento naquele contexto? Já se perguntou sobre como era possível entender o fenômeno do adoecimento humano sem os recursos que temos disponíveis hoje em dia? Se Hipócrates estivesse diante de uma pandemia, como a do novo coronavírus, com tudo que já foi produzido pelo avanço da tecnologia e da ciência moderna, talvez, ele se surpreenderia com a genialidade e resiliência dos novos profissionais médicos. Afinal, é um desafio e tanto observar a evolução de uma doença em que o contato direto e pessoal com o paciente oferece riscos à própria saúde. Hoje, com a covid-19, profissionais de todo o mundo estão diante desse desafio.

Como há séculos a humanidade encontrou soluções para os problemas de sua época, atualmente os profissionais de saúde do Brasil contemporâneo e do mundo vivenciam um “novo normal” com muita resiliência, mas com o profissionalismo e o desejo de cumprir a missão de cuidar das pessoas desempenhado desde sempre. Inclusive, é possível fazer um paralelo entre passado e presente. A pandemia do novo coronavírus revive atualmente desafios maiores que o da gripe espanhola (1918-1919), considerada a pandemia mais mortal da história.  Só no Brasil, a gripe espanhola matou 35 mil pessoas. Isso revela que o novo coronavírus, que segundo dados do Ministério da Saúde já matou mais de 160 mil brasileiros, exige dos profissionais médicos adaptações que demostrem bons resultados na luta contra a pandemia do nosso século. A Telemedicina  é uma delas.

Assim como na época da gripe espanhola, o novo coronavírus instaurou a necessidade do distanciamento social para evitar o aumento da taxa de contágio na população. Com isso, a falta de contato entre médico e paciente exigiu e exige cada vez mais que os profissionais da saúde façam os tratamentos adequados, mas sem o contato direto com aqueles que mais necessitam deles neste momento. Uma missão quase impossível para aqueles que, desde a antiguidade, necessitam acompanhar de perto a evolução de uma doença. 

Apesar da Telemedicina ter se tornado uma ferramenta fundamental e aparentemente “inovadora” em tempos de covid-19, ela já é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde desde 1990. A oferta de atendimento médico de forma remota, regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) na Resolução CFM nº 1.643/2002, é um tipo de especialidade que representa o exercício da medicina através da utilização de metodologias interativas de comunicação audiovisual e de dados. Isso fez com que o atendimento médico e o direito à saúde, garantidos através do artigo 196 da Constituição Federal de 1988, se tornasse acessível a qualquer hora, em qualquer lugar.

A Telemedicina rompe barreiras geográficas, conectando não somente médico e paciente, como também tem sido um ambiente de troca de experiências entre os profissionais da área. O compartilhamento de informações por meio de plataformas médicas se tornaram uma das principais armas contra o novo coronavírus e isso só é possível graças ao avanço da Telemedicina. Para o paciente, basta ter acesso à internet para realizar as consultas. Ele entra numa sala virtual e o médico usa o prontuário eletrônico da Plataforma de Telemedicina, que utiliza a ferramenta de videoconferência para ver e ouvir o paciente. Através dela, o atendimento 100% remoto se encerra com a geração de um prontuário digital, podendo ser solicitados exames, além de prescrições digitais que podem ser enviadas ao paciente através de e-mail ou SMS.

Vale destacar que Telemedicina é diferente de telessaúde e e-Saúde. A telessaúde é a prestação de serviços de saúde a distância através de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Ela envolve serviços em teleducação, redes de investigação e também de redes de administração e gestão na área da saúde. Neste caso, a Telemedicina integra esses serviços, porque ela utiliza diversos softwares e plataformas específicas para oferecer consultas e laudos médicos a distância. Já saúde digital, também conhecida como e-Saúde, foi proposta pela OMS com objetivo de unificar informações sobre pacientes, como medicamentos, consultas e exames, integrando softwares e dispositivos através das tecnologias.

No Brasil, a Telemedicina já é ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com diversos serviços nas especialidades Cardiologia, Radiologia, Neurologia, Pneumologia, Teleconsulta médica, Telepsiquiatria, Teledermatologia e Telepatologia. Esses serviços integram o Programa Nacional Telessaúde Brasil Redes. Com a pandemia do novo coronavírus, a Comissão Especial do CFM está revisando a prática da Telemedicina no país. De acordo com o Conselho, apesar de já ser uma prática regulamentada pelo órgão, a Telemedicina foi autorizada por meio de uma legislação específica desde abril deste com a publicação da Lei nº 13.989/20.  No texto, a prática é definida como “o exercício da medicina mediado por tecnologias para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde”. Porém, ela passará por nova regulamentação do próprio CFM até o final da pandemia do covid-19. 

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